segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A celula urbana II

Amelinha era uma moça trigueira de lindos olhos azuis fruto do cruzamento genético de suíços e caboclos lá pelas bandas da Serra do Tardem, norte do Estado do Rio de Janeiro. Após se cumprimentarem Luiz Carlos deu uma rápida descrição do Condomínio com suas modernas instalações mais o que chamou a atenção de Ary foi o supermercado com seu movimento fora do comum.
- Este supermercado faz parte do Condomínio?
- Claro. Nele vendemos toda a produção excedente das Moléculas. Tanto das nacionais como internacionais.
- Essa não! Vocês são tão espiritualistas e filosóficos mais não esqueceram do lado material da vida principalmente no que diga respeito a lucros.
- Nem poderia meu caro Ary. Tudo tem que estar matematicamente entrelaçado pelas nossas ações do dia a dia.
Antes de entrar no elevador, Ary ainda deu uma rápida olhada nas dependências circunvizinhas do Condomínio e exclamou:
- Quando eu contar Clarisse sobre o que vi aqui ela não vai acreditar. Isto aqui é uma resposta aos seus sonhos de desenvolvimento social.
Clarisse era uma funcionária do estado na área de Políticas Públicas e Desenvolvimento Social.
O apartamento do casal era de quarto e sala, copa e cozinha e uma pequena varanda. Os cômodos eram pequenos mais muito bem apetrechados.
- Puxa! Vocês moram muito bem. Que ambiente agradável. Exclamou Ary.
Enquanto Amelinha ia cuidar de um lanche na cozinha Luiz Carlos ajeitou duas cadeiras em frente ao computador e indicou uma para que Ary sentasse. O computador foi ligado e imediatamente Luiz Carlos acessou o site da incrível Ciência.
Enquanto lanchava, Ary lia e relia alguns resultados e análises que sofriam comentários explicativos de Luiz Carlos. Sério e com a voz em tom grave falou:
- São sete horas da noite. Está na hora de ir para casa. Realmente estou surpreso com o conteúdo da Ciência e seus Sistemas e Clarisse vai pular de alegria em saber que alguém como ela defende a existência do Idioma Brasileiro Livre.
- Espere um instante Ary, veja este vídeo de quatro minutos sobre a Molécula 01 – Canudos. Depois levo você para casa.
Ary assistiu ao vídeo comedido e sério e ao seu termino comentou.
- Realmente inacreditável, parece um mundo virtual.
- E já no carro indagou:
- Como foi que você ingressou neste vamos dizer, Mundo Molecular?
- Foi através do Orlando um rapaz nosso vizinho na casa de cômodos. Um dia conversávamos sentados em um banco da pracinha esperando a nossa vez de jogar futsal e não sei como a dificuldade da vida veio a ser o assunto. Fiz minhas queixas e reclamações e ele escutou a tudo calado. Quando terminei, pensei que ele ia expor as suas ponderações mais simplesmente falou:
- Luiz Carlos no final do mês vou embora. Quando chegarmos a casa vou lhe dar um documento e você deve ler ele com seriedade.  E depois de ter uma ideia formada a respeito de seu conteúdo e se quiser mudar de vida, me procure. Ele contem meu endereço e telefone.
Quando voltamos ele me deu o documento e me advertiu:
- Não brinque, isto é coisa muito séria. Porém você tem o direito de não concordar com ele.
O documento eram quatro folhas de papel encadernadas numa pasta de plástico transparente e na primeira folha estava escrito OS PROTOCOLOS DO 4° PODER.
Depois da janta li e reli umas quatro vezes e dei o documento para Amelinha ler. Ela leu e comentou:
- Isto parece coisa de maçom.
- Não é não Amelinha. Tem coisas ai no documento com as quais eles jamais concordariam.
- Não sou do contra mais pense bem no que vai fazer.
Orlando foi embora e nunca mais toquei no assunto Protocolos com Amelinha. Um dia, porém, meses depois, na Praia de Ipanema apreciava a movimentação de banhistas sentado a seu lado na toalha quando percebi que seu olhar estava perdido no horizonte, preocupado indaguei:
- O que houve Amelinha?
- Estava pensando como seria o mundo se as pessoas seguissem os preceitos dos Protocolos, principalmente nós os brasileiros.
- Oh! Minha flor de manacá que susto você me deu.
- Porque você não procura o Orlando para sabermos mais a respeito dos Protocolos? Se existe os Protocolos, existem as pessoas que fizeram os Protocolos e como elas existem, são um grupo organizado e em sendo assim eles estão juntos objetivando algo a alcançar só nos resta saber se esta coisa é boa para nós ou ruim.
- Quando chegarmos em casa vou telefonar para ele, seu endereço e telefone estão nos documentos.
Telefonei para ele e ele me atendeu alegremente e como no meio da semana seguinte havia um feriado nos convidou para almoçar com ele. No feriado conforme o combinado fomos ao seu encontro. O endereço era num bairro da periferia; uma casa grande com um enorme quintal aonde pessoas iam e vinham com bolsas de compras e carrinhos era o nosso destino.
Entramos e uma jovem nos recebeu entre sorrisos;
- Novos aqui ou estão à procura de alguém?
- Sim viemos a convite do Orlando.
- Vocês são a Amelinha e o Luiz Carlos?
- Sim, somos.
- Então me acompanhem ele está nos escritórios.
O escritório ocupava uma das dependências do andar de cima da casa que como no quintal havia grande movimentação de pessoas. Orlando nos recebeu, mandou que nos acomodassem em um sofá e deu ordens a moça para não ser importunado, pois durante meia hora não receberia ninguém.
Assim que a moça saiu ele foi direto ao assunto:
- Para vocês virem até aqui é um sinal de que os Protocolos de alguma maneira interessou a vocês. Antes que vocês perguntem vou explicar o porquê dos Protocolos e toda esta movimentação que aqui acontece.
Eu e mais sete pessoas somos os responsáveis por esta comunidade. Somos uma espécie de cooperativa de auxilio mutuo e compra de alimentos e bens domésticos. Pertencíamos a uma entidade esotérica de grande porte e ramificada no mundo inteiro e apesar de diferença nos graus hierárquicos muita coisa de regras e normas resolvemos não mais aceitar e decidimos formar um grupo independente e esta cooperativa foi o nosso primeiro ato concreto
Só que, no momento, funcionamos em termos informais e isto nos impede de rumarmos em novas direções. No entanto, um de nossos membros diretores nos trouxe um documento cujo teor é regras de conduta pessoal, Os Protocolos do 4º Poder. Ele foi apresentado em uma de nossas reuniões e como achamos seu teor muito interessante resolvemos saber de sua origem e descobrimos que eles fazem parte da cultura filosófica dos povos que habitam as cidades estado moleculares.
Como tais cidades são questionadas pela sociedade em geral decidimos enviar dois membros para saber como estes povos vivem e se realmente os Protocolos eram usados. Nossos membros viajaram com a intenção de despenderem dois ou três dias na visita mais já haviam se passado uma semana e quando nós ligávamos para seus celulares ou eles diziam que iam visitar isto ou aquilo ou assistir algum evento no dia seguinte. As famílias estavam inconformadas e nós muito aborrecidos com o transtorno.
Quando voltaram trouxeram muitas prendas e não se cansavam de falar nas maravilhas que viram lá. Em uma nossa reunião especifica já livres das emoções da visita sobre tudo que viram e sentiram nos apresentaram uma proposta da Molécula 01 – Canudos. Eles nos ajudariam mais teríamos que compartilhar de sua filosofia de vida estudando e seguindo os embasamentos de sua cultura mais teríamos a nossa independência de ação só que todos os membros de nossa instituição teriam que realizar a sua Auto Análise através Da Ciência Oaieme.
A referida Auto Analise depois de pronta seria apresentada a um Conselho de Membros escolhidos pelo próprio autor que não poderiam recusar o convite.
Os embasamentos culturais das Moléculas são o Idioma Brasileiro Livre, a Ciência Oaieme e suas Doutrinas e os Protocolos do 4° Poder.
Este grande galpão aí do lado da casa foi adquirido pelo Conselho das Moléculas para nele desenvolvermos nossos trabalhos e darmos os primeiros passos, pois dentro de alguns dias teremos em nossas mãos toda a documentação da fundação do nosso Centro de Estudos que vai gerenciar todas as nossas atividades. Há lugar para vocês, não vivam sozinhos.
O almoço foi prazeroso e a partir daquele dia eu e Amelinha começamos a viver uma nova vida. Quando a aposentadoria chegar terei direito a ir descansar sob a égide das Moléculas em algum balneário para aposentados.
A noite já havia caído quando os dois chegaram à portaria do edifício onde Ary morava. Os dois saltaram e quando iam se despedir o filho de Ary gritou da janela do quarto andar.
- Pai, você viu?
Uma estrela cadente riscou o céu rumo norte sul.
Enquanto Clarisse acenava com as mãos para os dois e Luiz Carlos entrava no carro e quando já ia partindo Ary pela janela falou.
- Mano, se Aldous Huxley visitasse as Moléculas ia morrer de inveja por não ter participado da confecção do projeto deste ADMIRAVEL MUNDO NOVO.
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**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão

**** Fim.


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