quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A celula urbana I

Entrei na NVBR-01 ainda não eram oito horas e fui direto para a sala de comandos. Cumprimentei a todos e fui sentar em uma das cadeiras que ficam por traz da cadeira onde senta o Cmte quando a nave está  displicentemente e sem pensar em nada observava o trabalho dos tripulantes operando o enorme painel de comando da nave.
Por cima do painel enormes telas tridimensionais armazenavam e transmitiam informações várias a equipe de trabalho e numa delas uma incrível visão de nosso sistema Planetário podia se ver e admirar.
- Cmte Jotha, falou um dos membros da equipe de trabalho. Aquele pequeno ponto branco fosforescente é o micro cometa que se aproxima do sistema. É o Conglomerado auto desintegrado de naves da civilização que perdeu seus conterrâneos na Taiga Siberiana.
De novo, como aconteceu na ultima vez que fui apairecer na praia; sons eclodiram dentro de minha mente. Os ruídos ás vezes estridentes e às vezes graves pareciam os sons do Idioma utilizado pelos golfinhos. Eles incomodavam e me deixavam um pouco tenso. Ao sentir que algo de estranho ocorria, uma oficial Polaris aproximou-se.
- Está sentindo alguma coisa Cmte?
- Ouço esquisitos sons dentro de minha mente e não estou me sentindo bem.
- Só um momento e resolvemos isso.
E acionando um dispositivo no peito falou:
- O Cmte Jotha não está se sentindo bem. Estamos na sala de Comandos.
Em menos de dois minutos três oficiais médicos chegaram e colocaram um pequeno sistema sobre meu peito.
- Cmte como o Sistema Geral nos monitora, dentro de alguns minutos ele emitirá um laudo ou relatório. O Sistema está orientando para o senhor ficar em repouso aqui mesmo, pois alguém fora do nosso Sistema Planetário está tentando contatá-lo.
Dispositivos foram acionados e a cadeira se transformou em uma cama e que mesmo na semi matéria me provocou profundo sono. Quando acordei e refeito fui surpreendido com a presença do Cmte Scalus. Ao me ver acordado deu ordens para que os médicos retirassem os equipamentos que estavam presos ao meu peito.
- O que houve Cmte Jotha é que a transmissão estava muito além da sua capacidade de recepção mais isto não tem importância, pois Artentius tratará de treiná-lo para estar apto a conversas telexiônicas. Como o Sistema da NVBR-01 disponibilizou um canal telexiônico na direção do micro cometa eles ficaram informados sobre a NVBR -01 e seu comando por isso tentaram contatá-lo.
- E como vamos nos entender com eles? Não sabemos nada a respeito de seu idioma.
- Isso não é motivo de preocupação. O Tradutor já cuidou disso e neste momento o Cmte Aulax está conversando com eles. Volte para a matéria e espaireça e mais tarde entre em contato com o Dr. Roberto. Estejam à vontade.
- Dizendo isto o Cmte Scalus se foi deixando por alguns segundos suas multicoloridas fosforescências no ar.
Retornei para casa, mudei de roupa e antes de sair para dar uma caminhada conversei por alguns momentos com alguns peões que se lavavam na bica do poço artesiano. Eles estão trabalhando nas obras das ruas do bairro que estão recebendo esgotos novos e asfaltamento. Como lidam com muitas ferramentas e materiais permiti que estocassem os mesmos em meu quintal devido ao fato de que perdem muito tempo a tarde levando tudo de volta para o canteiro da obra. Assim, eles tem um ganho de pelo menos uma hora e chegam em casa mais cedo.
Fiz isso porque sei como é dura a vida de operário de obra, pois também fui um deles. Morei em não sei quantas obras e dividi panela a meia com meus conterrâneos nordestinos e disto muito me orgulha de falar. Naquela época, aprendi com eles o que é lealdade, fraternidade, solidariedade e respeito mútuo.
Às vezes, os que estão trabalhando aqui por perto, na hora do almoço, descansam a sombra das arvores no meu quintal e entabulamos conversas com assuntos variados cujos teores vão desde a política a minhas aventuras por este mundão de Deus.
Embevecidos com os relatos não deixam de fazer perguntas às quais respondo com satisfação.
Após caminhar por alguns minutos cheguei à praia onde fiquei observando o trabalho monótono das máquinas a espalhar areia sentado em um velho banco de cimento. Como uma velha chata e sua neta começaram a me fazer cretinas perguntas a respeito da obra, delicadamente me despedi alegando que estava na hora de tomar um remédio.
- Você está doente? Indagou à velhota.
- Sim, respondi. Sofro de profunda depressão.
Não dera muitos passos e ouvi a velhota dizer:
- Depressão que nada. Você viu como ele olhou pra suas ancas?
A moça de pé, acariciando suas cãs embranquecidas rodopiou o dedo indicador tentando me dizer que a velhota é que era matusquela.
Entrei em casa e fui ver como estava a Mãe. Ela estava dormindo a sono solto e como tudo estava sob controle fui para a NVBR-01.
Na sala de comandos indaguei ao Dhoren se não haveria problemas com a presença de peões no quintal. Ele respondeu que não, pois tripulantes estavam atentos à movimentação dos mesmos na casa e a possibilidade de eles perceberem algo incomum no ambiente era nenhuma.
Numa saleta de repouso e estar Dhoren colocou uma tela tridimensional em atividade e solicitou contatos com a Molécula 01- Canudos. Não demorou muito e a imagem de Sheylla apareceu na tela.
- Olá JB como vai? Até que enfim você deu o ar de sua graça.
- Estou bem e você? Não tenho praticamente entrado em contato porque os acontecimentos destes dois meses foram realmente incomuns.
- Eu sei e por aqui também. As frequentes visitas de aviões furtivos chineses e aviões de reconhecimento robôs obrigaram na última semana a uma de nossas naves a derrubar um deles. Estamos na expectativa de uma visita de militares de Brasília.
- Não haverá problemas. Eles não conseguirão comprovar nada.
Ia tecer mais algumas considerações mais as imagens do Dr. Roberto, Dr. Rubens e Celso apareceram na tela.
- Olá JB. É sempre bom rever o amigo.
Cumprimentei os três e o Dr. Roberto continuou:
- Você agora vai apreciar um vídeo sobre uma célula urbana no Rio de Janeiro.
Em uma enorme tela tridimensional um homem de aparência jovial com cerca de uns quarenta anos começou a apresentar o vídeo. O vídeo teve uma duração de mais ou menos uns vinte minutos e era um relato do inicio e do desenvolvimento de uma Célula Urbana no Rio de Janeiro. E segundo o relato tudo aconteceu assim:
Como sempre as sexta feiras, no final do expediente, as pessoas costumam se reunir em bares, lanchonetes e restaurantes para beber e conversar com o espírito típico de confraternização. No entanto, frustrações profissionais, amorosas e domésticas mal resolvidas, muitas vezes fazem com que alguns extrapolem e as dissensões acontecem e as brigas costumam a acontecer.
A frustração de uma vida mal resolvida levou Ary, um funcionário publico de nível médio a não participar do grupo em uma destas sextas feiras. Instado pelos amigos e colegas alegou que estava com problemas e preferia esta só e que não se preocupassem com ele.
Sozinho, entre um gole e outro se questionava; ganhava relativamente bem e a estabilidade no emprego era certa, pois entrara no serviço público através de concurso, mais estava sempre em dívidas e como a maioria dos brasileiros preso a sobressaltos.
- Trabalhar, comer, dormir, pagar aluguel, pagar dividas e ter que aturar os choramingos da mulher e dos filhos. Entra ano e sai ano e a vida é a mesma chatice e ainda por cima o time perde o campeonato. Que merda meu Deus! Mais que merda!
Alguém sentou a seu lado e ele sem olhar falou ríspido.
- Por favor, deixe-me só. Não venha me aporrinhar com seus conselhos.
A pessoa não se levantou e ele virou-se para expulsar o intruso da mesa mais em vez disso cabisbaixo apenas resmungou:
- Desculpe Luiz Carlos. Não sabia que era você.
Luiz Carlos era seu subalterno no departamento em que trabalhavam mais apesar da diferença de funções e instrução eram bons amigos.
- Porque está assim tão amargo? Problemas com a Clarice e as crianças?
- Pelo contrário Luiz, eles são as coisas boas da minha vida. Sem eles acho que já teria explodido.
- Então o que é que está acontecendo? Está precisando de dinheiro?
- Não Luiz. O que está acontecendo é que esta vida é chata, sem sentido, sem perspectivas. Sinto-me como o porco no chiqueiro. Só comendo e dormindo na espera do dia de morrer. Somos como os porcos no chiqueiro ou o boi no pasto na expectativa da ida ao matadouro. Somos usados, abusados, humilhados e quando não servimos mais para a nada o sistema nos concede uma aposentadoria medíocre que gastaremos comprando remédios e pagando alugueis. Veja você que chega o final do mês nós recebemos os salários e até mais ou menos o dia vinte do mês seguinte já devolvemos tudo ao sistema. Estou certo ou estou explanando asneiras?
- Não tenho o estudo que você tem mais leio e pesquiso muito ainda mais que, agora tenho um computador. Realmente você tem suas razões e está se dando conta de sua situação agora, coisa que a maioria das pessoas não o fazem. Todos nós vivemos em função do Sistema e de sua perpetuação e o Sistema ou seus Administradores não estão nem aí para o que possa acontecer a este ou aquele cidadão.
Durante muitos anos me questionei sobre o sentido da vida porque assim como você achava que nós que pertencemos às classes menos favorecidas e não passamos de meros objetos descartáveis e que as religiões, credos e filosofias apenas consolam as multidões mais não resolvem seus problemas.
Conscientizei-me disso quando tive a certeza de que aqueles que quiseram elevar o grau de conhecimento das multidões foram levados à inglória morte, como é o caso de Sócrates, Jesus Cristo e recentemente aqui no Brasil Antonio Conselheiro, Getulio Vargas e outros..
Decepcionado com as filosofias, credos, religiões e ideologias políticas resolvi mesmo assim continuar a minhas buscas pelo saber do sentido primordial das coisas ou pelo menos assimilar o sentido da vida e isto me levou a conhecer uma verdade que o homem comum não conhece: um pequeno grupo, um poder diabólico determina as ações no planeta e é senhor do destino de Tudo e de Todos. Mais descobri também que seu império está prestes a ruir: uma verdadeira enxurrada de denuncias sobre suas ações são publicadas diariamente através da internete, livros, jornais e revistas.
Mais isto não os incomoda, pois os denunciantes alegam que a Humanidade só pode escapar de seu tirânico poder se refugiando na Bíblia. Ou eles são idiotas ou estão a serviço deste Satânico Poder. O que quero lhe dizer meu caro Ary é que eles dominaram o mundo usando a Bíblia na mão direita, a Cabala na esquerda e os credos das religiões em cima da mesa. Tudo foi ideado por eles para submeter a toda a Humanidade. Eles se acham assim, imbatíveis.
- Pelo o que estou entendendo Luiz Carlos, parece que você descobriu ou veio a conhecer algo que vai de encontro a este poder e suas armas. Você parece tão seguro nas suas explanações.
- Sim Ary. Encontrei algo, ou melhor; vim conhecer uma Ciência que suplanta qualquer outra que já tenha sido ideada ou criada pelo homem. Para você ter uma ideia, todo o conhecimento adquirido até hoje inclusive as ações humanas para o bem ou para o mal seguem os parâmetros da Ciência Cabalística dos judosumérios. Até a cultura e religiões orientais são reverberações daquilo que os Senhores da Cabala estipularam para a Humanidade. E estes senhores terríveis são a Elite de uma Civilização que se instalou na Suméria a uns treze mil anos atrás mais já colonizava a Terra a uns setecentos mil anos e são os avós espirituais e materiais dos judeus e da maioria das casas imperiais deste mundo.
- Caramba Luiz Carlos, como você veio a descobrir estas coisas?
- As maiorias dos pesquisadores na área de toda a cultura remota ou conhecida fazem insinuações, tecem considerações sobre o assunto em pauta mais jamais afirmam quem são os responsáveis pela miserabilidade da Humanidade ou quem são seus predadores para não entrar em choque com eles e evitar retaliações. Então, descobri que a maioria dos autores que tratam de tais assuntos, mesmo os mais medrosos nas entrelinhas de suas publicações de uma forma ou outra, quase velada e sutilmente, tentam transmitir a coletividade a informação correta sobre o passado, o presente e o futuro assimcomo as ações dos predadores da Humanidade.
Assim, colecionando informações despretensiosas, insinuações de ações possíveis, velhas lendas e o histórico das tradições do ocultismo montei meu particular quebra cabeças que me permitiu saber qual é a verdadeira historia deste mundo com o auxilio desta incrível Ciência e seus Métodos e Doutrinas.
- Ora Luiz Carlos, saber quem nos tiraniza e como nos tiranizam não nos liberta e acredito que esta tal Ciência que veio a conhecer, pelo que eu saiba, não resolveu os problemas da Humanidade nem tampouco o seu.
- Engano seu Ary. Se ele não resolveu os problemas da Humanidade é porque infelizmente ainda é desconhecida mais no meu caso particular, com ela aprendi a encontrar soluções para os meus problemas.
- A bem da verdade Luiz Carlos todos os nossos colegas acham que de uns tempos para cá algo estranho aconteceu com você. Dentro da instituição você é uma pessoa muito benquista. Sabes por que surgiram estes comentários?
- Sinceramente não posso atinar sobre.
- Na reunião da ultima prestação de contas da nossa caixa de empréstimos você era o único que não estava presente. Também, há mais de um ano que você não faz um empréstimo. Isto causou admiração e gerou comentários sobre a sua pessoa. Acredite, foram sinceros e positivos. Uns até falam que talvez você tenha ganhado algum prêmio de loteria mais por ser modesto nada contou aos colegas e amigos. Mais me responda com sinceridade Luiz Carlos; você acha que esta Ciência realmente ajudou a modificar a sua vida para melhor?
- Claro que sim. Mais já que me fez esta pergunta, lhe respondo com outra:
- Você já ouviu falar das Moléculas onde milhares de pessoas vivem sob a égide de um Regime Igualitário?
- Já li alguma coisa a respeito em uma revista mais achei que tudo não passava de mais uma destas comunidades de fanáticos de cuja existência não aprovo, pois muitas delas terminaram através de um suicídio coletivo.
Aliás, o autor da matéria até questionou a honorabilidade dos mentores de tão esquisito empreendimento.
- A mídia só publica meu caro Ary aquilo que interessa ao Sistema. O que fere ou põe o Sistema em cheque é descartado como matéria imprópria e até subversiva.
- Você está sendo radical. A liberdade de imprensa é um requisito do Estado Democrático e aqui no Brasil ela funciona.
-Ah!Ah!Ah! Como você é ingênuo meu caro Ary. Em matéria de liberdade de imprensa no Brasil e em qualquer lugar do mundo “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
- A respeito, quer uma dica?
- Quero!
- Observe as marcas e os logotipos das grandes empresas de televisão, jornais, automóveis ou empreendimentos comerciais, bancários e industriais de grande porte e você verá o carimbo dos Predadores da Humanidade impressos de maneira sutil nos mesmos. Logo a mídia só publica aquilo que não incomode tais Satânicos Senhores.
- Vou pesquisar este assunto e se você estiver certo, darei a minha mão a palmatória e quanto às tais Moléculas elas não passam de um amontoado de fanáticos e malucos.
- Bem Ary estive na Molécula 01 – Canudos e não vi ninguém rasgar dinheiro nem jogar cocô na parede.
- Ué! Você esteve neste lugar de malucos?
- Claro que sim. Eu e Amelinha ficamos lá por uma semana nas férias do ano passado.
- Ahhhmm! Ahhhmm. Por isso não conseguimos falar com você.
- Nem poderia. Além de viajar esqueci meu celular em casa.
- Chegamos até a ir à casa de cômodos em que vocês moravam. Mais uma velhinha que vende balas no portão nos disse que fazia mais de um ano que vocês tinham se mudado. Onde vocês estão morando agora e porque nunca nos disse nada? Afinal somos seus companheiros de trabalho e amigos.
- Desculpe amigo. É de que pelas nossas normas internas não damos informações sem que as pessoas nos peçam.
- Só por curiosidade Luiz Carlos. Você me disse que esta Ciência e seus Métodos estão disponíveis na Internet. Quando e onde você poderá me explicar eles pessoalmente, pois sinto que posso desmenti-lo.
- Vamos fazer o seguinte vamos até minha casa. Ainda falta muito para o anoitecer e minha casa fica no meio do caminho que vai para a sua. Está de moto?
- Não. Às sextas feiras viajo de ônibus Clarice tem medo que eu sofra algum tipo de acidente por causa da bebida.
- Isto é uma prova de cautela e juízo. Vamos no meu carro.
- Carro? Como você comprou carro?
- O carro não é meu Ary. Ele pertence às Moléculas.  Sou apenas o usuário.
- Acho que minha cabeça está entrando em curto circuito Luiz Carlos.
No estacionamento Luiz Carlos recebeu uma bolsa do funcionário, deu-lhe uma gorjeta e agradeceu pelo favor de ter comprado duas revistas para ele.
Durante o trajeto que não durou nem uma hora nada falaram apenas se limitavam a comentar com os olhos sobre as pessoas e os tipos exóticos que pululavam nas ruas. De ante de um simpático condomínio pararam e esperaram os portões se abrirem.
- É aqui que você mora?
- Claro. É aqui que eu moro.
- Você ganhou na loteria?
- Não meu caro Ary. Apenas sou um dos fundadores da primeira Célula Urbana no Rio de Janeiro. Desça, pois Amelinha já nos viu chegar.
****

**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão

**** Fim.