Nos
idos do golpe de estado de 64, no século passado, trabalhava na
construção civil na zona sul do Rio de Janeiro, em Ipanema onde
morava e comia de meia na panela com meus conterrâneos nordestinos.
Aos sábados e domingos era nosso costume ir à praia pela manhã,
jogar bola e tomar banho até a hora do almoço. Era um sábado e
depois de jogarmos nossa costumeira “pelada” caímos todos na
água. Enquanto meus companheiros brincavam nas ondas, resolvi me
adentrar um pouco mais no mar. Distante da praia, cerca de uns 500
metros boiava e me deliciava com a reconfortante temperatura da água
quando senti que algo de anormal estava acontecendo, rápido fiquei
na posição vertical e fiquei surpreso com o que acontecia;o mar
estava se encapelando com uma incrível rapidez e as ondas não
permitiam mais que boiasse. Pressentindo o perigo iminente tratei de
nadar em direção a praia mais ao me aproximar percebi que não
poderia ousar atravessar as ondas, elas estavam muito altas e eu
podia ouvir o estrondo que faziam quando explodiam na areia. Se
tentasse atravessa-las seria esmagado por elas com toda a certeza.
Tentei por várias vezes encontrar um vau, aquele lugar onde as ondas
se chocam de lado e se espraiam em direção a praia com relativa
suavidade permitindo a saída de quem estiver em perigo. Meus
companheiros na praia acenavam e gritavam e as pessoas começavam a
se aglomerar para acompanhar a minha luta. Lutei muito por quase uma
hora talvez, esgotado, afundei umas duas vezes e com muito esforço
voltei a tona. Na terceira ou quarta vez afundei e não voltei mais.
-
Meu Deus estou morrendo afogado, pensei.
Um
incrível entorpecimento tomou conta de mim e senti que meu corpo
rodopiava com uma velocidade inconcebível. Como não sabia o que
estava acontecendo, resolvi ficar calmo e conformado com a
possibilidade de estar morto. Era a única coisa que poderia fazer.
-
Acho que estou dentro de um redemoinho, pensei.
Raciocinava
a respeito da vida e da morte quando de repente me senti expelido
como um nenê do útero da mãe e depois de alguns momentos de
confusão percebi que estava boiando num espaço infinito composto do
nosso próprio mundo. Meu corpo às vezes estava de ponta cabeça
mais isto não me incomodava, pois eu senti que a lei da gravidade
ali não imperava ou não tinha sentido. Impulsionado por uma força
desconhecida meu corpo, boiando ia atravessando casas, pessoas,
arvores edifícios e todas coisas de nosso mundo concreto mais não
era percebido por ninguém.
-Se
a morte é isso não é tão mal assim. Talvez o que possa incomodar
é a solidão, pois não vejo ninguém por perto e na mesma situação
minha, pensei. Bastava eu pensar em algum lugar e como num passe de
mágica já estava lá. A principio isto me trouxe angustias mais
depois de algum tempo isto me divertia e repeti o ato por várias
vezes.
Passada a emoção dos primeiros momentos resolvi levar a
coisa a sério e como primeiro passo desejei saber se havia algum
poder oculto que dominava este mundo. Em resposta ao meu desejo me vi
de repente diante de uma gigantesca propriedade nos Estados Unidos.
Sofisticadas limusines chegavam e delas saiam homens e mulheres que
pela aparência e maneira de se portarem só podiam ser ricas e
poderosas. Seguranças por todos os lados a tudo vigiavam. Fiquei
assistindo a chegada de tão requintada elite até o momento em que
os imensos portões da propriedade foram fechados.
Não perderei
tempo descrevendo a incrível mansão. Em um enorme salão,
bebericando e degustando requintadas iguarias a súcia contava casos
e gargalhavam. De imediato reconheci entre eles os Rockfellers e os
Rotschilds e senti que eles eram a elite maior. Depois de algum
tempo, um dos Rothschilds bateu palmas várias vezes e convidou a
todos a irem para um estranho salão. O salão era decorado com
símbolos ocultistas e nele foi oficiado nojento ritual. O ritual foi
rápido e todos se dirigiram de imediato para outro salão onde em
extensa mesa se sentaram e discutiram seus interesses políticos,
econômicos, religiosos e outros de menor teor. Um deles não estava
satisfeito com a atuação do secretario da ONU mais se dizia
satisfeito com os resultados econômicos na América Latina assim
como a fidelidade política aos interesses do grupo exercida pela
maioria dos mandatários latinos especialmente os brasileiros.
Aproveitando o ensejo um outro explicou a situação política do
Brasil afirmando que não havia o que temer sobre o momento político
e os interesses da súcia no Brasil pois as forças armadas e os maiores empresários, do pais já tinham acertado o golpe de 1964,
estavam esperando apenas o momento propicio para o ato. Ventilou ele
também que um esquema financeiro já estava preparado para isto,
isto é nas vésperas do golpe e durante alguns dias depois do golpe
o dólar seria valorizado e desvalorizado várias vezes. Isto
enfraqueceria a nação e era uma maneira sutil de ajudar seus
aliados no Brasil e rindo ele afirmou ”Não precisamos sujar nossas
mãos com sangue. Se eles querem nossos dólares que façam o
trabalho sujo”.
Ali eu vim a ter conhecimento que este grupo e seus
asseclas são dono de 70% do dinheiro circulante no mundo e que nação
nenhuma caminha sem fazer acordos com eles. Eu estava furioso e
revoltado, pois pertencia a um grupo dos 11 independente e dentro do
grupo eu defendia a tese da revolução da caneta e não a do fuzil.
Estava ainda em meio a minha raiva e descontentamentos quando fui
arrebatado para uma outra situação ou cena e era em uma região
qualquer da África. Centenas de negros estavam sendo enterrados em
valas por retroescavadeiras. Meu corpo estremeceu e um anseio de
vômitos retorceu meu estômago me extenuando as forças e me
deixando entorpecido.
-Meu
Deus por que vim saber destas coisas se nada posso fazer? Indaguei em
pensamentos.
Boiava
mansamente mais de olhos fechados na expectativa de algum fato novo.
Exausto nem me mexia. Estava assim vivenciando talvez uma madorna
quando comecei a escutar uma suave canção. Era uma voz feminina e
quem era talvez fosse uma mulher ainda jovem. A canção, era uma
canção de ninar. Senti algo acariciando meus cabelos como se fossem
invisíveis mãos e um aroma sutil e delicioso me envolveu. Momentos
depois comecei a escutar um estranho e ritmado som ou eco;
bum...bum...tibum...bum...bum...tibum... O estranho eco ecoava por
todo universo do espaço em que estava. –Isto é a batida de um
coração. Meu Deus será que alguma gigantesca criatura me engoliu,
pensei apavorado. De repente uma voz feminina e doce ecoou neste
universo estranho e parecia vir de todas as direções;
-Ó
meu bebê você não pode mais ficar aqui. O Pai do Céu não
permite. Você tem que voltar para seu mundo. Você não morreu, como
eu queria te ver mandei buscar você. Mais você é curioso demais e
terá que voltar imediatamente. Eu sou a Mãe Terra.
Desesperado
eu gritava que não queria voltar mais ela foi taxativa. – Vai
haver muita encrenca e você não pode estar dentro dela. No futuro,
você entenderá tudo que lhe falo agora. Viva a sua vida até chegar
à hora de agir conforme aquilo que você crê e pratica. E tem mais,
no futuro você terá que cuidar de sua mãe carnal. Ela é meu
reflexo e eu sou ela. Agora não entenderás nada, mais isto não
importa o que importa é que no futuro você seja fiel as suas
próprias idéias com as quais você foi educado em remoto passado.
Senti o seu planetário amplexo e imediatamente um torvelinho me
sugou me fazendo perder a consciência.
Devagar senti que estava
voltando a mim. Quando abri os olhos fiquei atônito, pois estava
sentado na areia da praia amparado por um guarda vidas. Uns diziam
que eu fora vitima de uma corrente que de repente me arrastou mar a
dentro e outros me chamavam de irresponsável, alegavam que eu estava
bêbado. Um velho de olhos esbugalhados com aparência de militar
reformado insistia que eu fosse levado preso. Nada dizia e permanecia
sentado meio enfraquecido. As discussões estavam se tornando ásperas
quase a ponto de confronto pessoal quando uma senhora negra vestida
com um imenso sari foi taxativa; - Não sejam idiotas e façam as
coisas por menos. Dizendo isso se abaixou e me abraçou pelas costas.
–Calma meu rapaz, Está tudo bem mais levante, pois eles querem ter
a certeza que você está bem. Vamos levante-se
Ela
e o guarda vidas me ajudaram a se por de pé. Amparado pelos dois ao
olhar para o mar fiquei admirado; golfinhos nadavam aos pares para lá
e para cá. De repente um deles deu dois saltos corcoveantes e o
cardume se foi em direção mar adentro.
-
É difícil acreditar mais foram eles que te empurraram para areia da
praia. Falou o guarda vidas.
Meus
companheiros se aproximaram, me despedi da senhora agradecido e
amparado por eles fui caminhando em direção ao calçadão sem não
antes ouvir seu aviso.
-Nunca
se esqueça do que viu e ouviu menino.
Atravessamos
a avenida e na esquina olhamos instintivamente para a praia. O guarda
vidas e muitos curiosos ainda comentavam o ocorrido mais a senhora
negra vestida de sari e com esquisito turbante na cabeça não estava
mais lá. Simplesmente havia sumido de cena. Entreolhamo-nos
estupefatos e Vitalino falou meio assustado;
-Vamos
embora gente, por favor, isto é demais para minha cabeça.
Passei
o resto do dia amuado e a noite não fui me encontrar com a namorada
nem tampouco fui ao forró como era de costume. Um ano depois na
Cinelândia tive o desprazer de assisti a vernissage do golpe de Estado. de 31 de março de 1964. O que vi e assisti naquele dia até
hoje incomodam minha mente e meu coração.
Estava
terminando esta postagem quando minha mãe, quase centenária passou
em direção a varanda e apontando sua bengala para mim disse. - Faça
o favor de preparar minha vitamina já, já...
Fiquei
sorrindo sozinho me lembrando da Mãe Terra que tinha me avisado que
no futuro eu iria cuidar de uma menina velha ou de uma velha
menina...
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O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga
pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No
entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e
o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre
serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.
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Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me
viste.
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Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
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Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão