quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A Deusa Asase

Nos idos do golpe de estado de 64, no século passado, trabalhava na construção civil na zona sul do Rio de Janeiro, em Ipanema onde morava e comia de meia na panela com meus conterrâneos nordestinos. Aos sábados e domingos era nosso costume ir à praia pela manhã, jogar bola e tomar banho até a hora do almoço. Era um sábado e depois de jogarmos nossa costumeira “pelada” caímos todos na água. Enquanto meus companheiros brincavam nas ondas, resolvi me adentrar um pouco mais no mar. Distante da praia, cerca de uns 500 metros boiava e me deliciava com a reconfortante temperatura da água quando senti que algo de anormal estava acontecendo, rápido fiquei na posição vertical e fiquei surpreso com o que acontecia;o mar estava se encapelando com uma incrível rapidez e as ondas não permitiam mais que boiasse. Pressentindo o perigo iminente tratei de nadar em direção a praia mais ao me aproximar percebi que não poderia ousar atravessar as ondas, elas estavam muito altas e eu podia ouvir o estrondo que faziam quando explodiam na areia. Se tentasse atravessa-las seria esmagado por elas com toda a certeza. Tentei por várias vezes encontrar um vau, aquele lugar onde as ondas se chocam de lado e se espraiam em direção a praia com relativa suavidade permitindo a saída de quem estiver em perigo. Meus companheiros na praia acenavam e gritavam e as pessoas começavam a se aglomerar para acompanhar a minha luta. Lutei muito por quase uma hora talvez, esgotado, afundei umas duas vezes e com muito esforço voltei a tona. Na terceira ou quarta vez afundei e não voltei mais.
- Meu Deus estou morrendo afogado, pensei.
Um incrível entorpecimento tomou conta de mim e senti que meu corpo rodopiava com uma velocidade inconcebível. Como não sabia o que estava acontecendo, resolvi ficar calmo e conformado com a possibilidade de estar morto. Era a única coisa que poderia fazer.
- Acho que estou dentro de um redemoinho, pensei.
Raciocinava a respeito da vida e da morte quando de repente me senti expelido como um nenê do útero da mãe e depois de alguns momentos de confusão percebi que estava boiando num espaço infinito composto do nosso próprio mundo. Meu corpo às vezes estava de ponta cabeça mais isto não me incomodava, pois eu senti que a lei da gravidade ali não imperava ou não tinha sentido. Impulsionado por uma força desconhecida meu corpo, boiando ia atravessando casas, pessoas, arvores edifícios e todas coisas de nosso mundo concreto mais não era percebido por ninguém.
-Se a morte é isso não é tão mal assim. Talvez o que possa incomodar é a solidão, pois não vejo ninguém por perto e na mesma situação minha, pensei. Bastava eu pensar em algum lugar e como num passe de mágica já estava lá. A principio isto me trouxe angustias mais depois de algum tempo isto me divertia e repeti o ato por várias vezes. 
Passada a emoção dos primeiros momentos resolvi levar a coisa a sério e como primeiro passo desejei saber se havia algum poder oculto que dominava este mundo. Em resposta ao meu desejo me vi de repente diante de uma gigantesca propriedade nos Estados Unidos. Sofisticadas limusines chegavam e delas saiam homens e mulheres que pela aparência e maneira de se portarem só podiam ser ricas e poderosas. Seguranças por todos os lados a tudo vigiavam. Fiquei assistindo a chegada de tão requintada elite até o momento em que os imensos portões da propriedade foram fechados.
 Não perderei tempo descrevendo a incrível mansão. Em um enorme salão, bebericando e degustando requintadas iguarias a súcia contava casos e gargalhavam. De imediato reconheci entre eles os Rockfellers e os Rotschilds e senti que eles eram a elite maior. Depois de algum tempo, um dos Rothschilds bateu palmas várias vezes e convidou a todos a irem para um estranho salão. O salão era decorado com símbolos ocultistas e nele foi oficiado nojento ritual. O ritual foi rápido e todos se dirigiram de imediato para outro salão onde em extensa mesa se sentaram e discutiram seus interesses políticos, econômicos, religiosos e outros de menor teor. Um deles não estava satisfeito com a atuação do secretario da ONU mais se dizia satisfeito com os resultados econômicos na América Latina assim como a fidelidade política aos interesses do grupo exercida pela maioria dos mandatários latinos especialmente os brasileiros.
 Aproveitando o ensejo um outro explicou a situação política do Brasil afirmando que não havia o que temer sobre o momento político e os interesses da súcia no Brasil pois as forças armadas e os maiores empresários, do pais já tinham acertado o golpe de 1964, estavam esperando apenas o momento propicio para o ato. Ventilou ele também que um esquema financeiro já estava preparado para isto, isto é nas vésperas do golpe e durante alguns dias depois do golpe o dólar seria valorizado e desvalorizado várias vezes. Isto enfraqueceria a nação e era uma maneira sutil de ajudar seus aliados no Brasil e rindo ele afirmou ”Não precisamos sujar nossas mãos com sangue. Se eles querem nossos dólares que façam o trabalho sujo”. 
Ali eu vim a ter conhecimento que este grupo e seus asseclas são dono de 70% do dinheiro circulante no mundo e que nação nenhuma caminha sem fazer acordos com eles. Eu estava furioso e revoltado, pois pertencia a um grupo dos 11 independente e dentro do grupo eu defendia a tese da revolução da caneta e não a do fuzil. Estava ainda em meio a minha raiva e descontentamentos quando fui arrebatado para uma outra situação ou cena e era em uma região qualquer da África. Centenas de negros estavam sendo enterrados em valas por retroescavadeiras. Meu corpo estremeceu e um anseio de vômitos retorceu meu estômago me extenuando as forças e me deixando entorpecido.
-Meu Deus por que vim saber destas coisas se nada posso fazer? Indaguei em pensamentos.
Boiava mansamente mais de olhos fechados na expectativa de algum fato novo. Exausto nem me mexia. Estava assim vivenciando talvez uma madorna quando comecei a escutar uma suave canção. Era uma voz feminina e quem era talvez fosse uma mulher ainda jovem. A canção, era uma canção de ninar. Senti algo acariciando meus cabelos como se fossem invisíveis mãos e um aroma sutil e delicioso me envolveu. Momentos depois comecei a escutar um estranho e ritmado som ou eco; bum...bum...tibum...bum...bum...tibum... O estranho eco ecoava por todo universo do espaço em que estava. –Isto é a batida de um coração. Meu Deus será que alguma gigantesca criatura me engoliu, pensei apavorado. De repente uma voz feminina e doce ecoou neste universo estranho e parecia vir de todas as direções;
-Ó meu bebê você não pode mais ficar aqui. O Pai do Céu não permite. Você tem que voltar para seu mundo. Você não morreu, como eu queria te ver mandei buscar você. Mais você é curioso demais e terá que voltar imediatamente. Eu sou a Mãe Terra.
Desesperado eu gritava que não queria voltar mais ela foi taxativa. – Vai haver muita encrenca e você não pode estar dentro dela. No futuro, você entenderá tudo que lhe falo agora. Viva a sua vida até chegar à hora de agir conforme aquilo que você crê e pratica. E tem mais, no futuro você terá que cuidar de sua mãe carnal. Ela é meu reflexo e eu sou ela. Agora não entenderás nada, mais isto não importa o que importa é que no futuro você seja fiel as suas próprias idéias com as quais você foi educado em remoto passado. Senti o seu planetário amplexo e imediatamente um torvelinho me sugou me fazendo perder a consciência. 
Devagar senti que estava voltando a mim. Quando abri os olhos fiquei atônito, pois estava sentado na areia da praia amparado por um guarda vidas. Uns diziam que eu fora vitima de uma corrente que de repente me arrastou mar a dentro e outros me chamavam de irresponsável, alegavam que eu estava bêbado. Um velho de olhos esbugalhados com aparência de militar reformado insistia que eu fosse levado preso. Nada dizia e permanecia sentado meio enfraquecido. As discussões estavam se tornando ásperas quase a ponto de confronto pessoal quando uma senhora negra vestida com um imenso sari foi taxativa; - Não sejam idiotas e façam as coisas por menos. Dizendo isso se abaixou e me abraçou pelas costas. –Calma meu rapaz, Está tudo bem mais levante, pois eles querem ter a certeza que você está bem. Vamos levante-se
Ela e o guarda vidas me ajudaram a se por de pé. Amparado pelos dois ao olhar para o mar fiquei admirado; golfinhos nadavam aos pares para lá e para cá. De repente um deles deu dois saltos corcoveantes e o cardume se foi em direção mar adentro.
- É difícil acreditar mais foram eles que te empurraram para areia da praia. Falou o guarda vidas.
Meus companheiros se aproximaram, me despedi da senhora agradecido e amparado por eles fui caminhando em direção ao calçadão sem não antes ouvir seu aviso.
-Nunca se esqueça do que viu e ouviu menino.
Atravessamos a avenida e na esquina olhamos instintivamente para a praia. O guarda vidas e muitos curiosos ainda comentavam o ocorrido mais a senhora negra vestida de sari e com esquisito turbante na cabeça não estava mais lá. Simplesmente havia sumido de cena. Entreolhamo-nos estupefatos e Vitalino falou meio assustado;
-Vamos embora gente, por favor, isto é demais para minha cabeça.
Passei o resto do dia amuado e a noite não fui me encontrar com a namorada nem tampouco fui ao forró como era de costume. Um ano depois na Cinelândia tive o desprazer de assisti a vernissage do golpe de Estado. de 31 de março de 1964. O que vi e assisti naquele dia até hoje incomodam minha mente e meu coração.
Estava terminando esta postagem quando minha mãe, quase centenária passou em direção a varanda e apontando sua bengala para mim disse. - Faça o favor de preparar minha vitamina já, já...
Fiquei sorrindo sozinho me lembrando da Mãe Terra que tinha me avisado que no futuro eu iria cuidar de uma menina velha ou de uma velha menina...
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**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão