sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Começo dos Começos

 Olá a todos!
   São José do Belmonte- Pernanbuco- inverno de 1944.
   Minha casa era de esquina e sua frente dava para igreja. A casa era grande e depois dela havia vários quartos que Vovó alugava para fazendeiros que vinham negociar na feira aos sábados. Depois destes quartos onde eles guaradavam suas tralhas, era a grande cozinha.. Na porta, havia um enorme pé de fíxus e depois dele o quintal se estendia cheio de árvores frutíferas.
   Era sábado e já estava chegando gente e os peões iam e vinham arrumando coisas e Mamãe se apressava para arrumar a mesa do café na copa onde tudo quera guloseima do sertão era servida. Eu queria ir  no banheiro mais Mamãe me recriminou alegando que eu estava atrapalhando e que fosse usar o WC dos peões  lá no fundo do quintal. Era inverno, frio e chovia fino.  Saí aos resmungos. Parei embaixo do pé de fíxus para tomar coragem de enfrentar a chuva fina, depois de algum tempo, corri em direção ao fundo quintal mais parei estupefato; um menino fazia sinais para mim e era esquisito. Voltei correndo e gritando:
   - Mãe tem um " menino de panela" me chamando para brincar na chuva!
   Nem cheguei a entrar na copa e Vovó me deu uns safanões e cascudos e mandou que fosse para o quarto dela. Quando passei pela copa, olhei para Mamãe mais  ela me mostrou o cabo da vassoura. Mediante isso, fui para o quarto e Vovó me trancou lá. Como estava apertado, abri a janela que dava para o jardim e mijei raciocinando sobre o ocorrido pois não entendia a atitude   de Vovó. Hoje em dia sei que a cor da roupa e do menino era prateada e a única coisa parecida para explicar como ele era, na época, eram as panelas de aluminio que o Pai trouxe de Recife.. Deitei na rede de Vovó e adormecí mais acordei no fundo do quintal conversando com o menino. achei que estava em sonhos mais não estava pois ele falou sorrindo:
   - Segure na minha mão, pule junto comigo e não tenha medo.
   Segurei sua mão, pulamos e apesar da chuva fina e fria, de repente já estávamos voando por cima da igreja onde pousamos no campanário e ele disse:
   - Vamos dar um susto naquele pessoal.
   Ele badalou o sino suavemente e o pessoal lá embaixo assombrados começaram a orar e se benzer olhando para o campanário.
   - São uns bobos. Vamos embora.
   Voávamos em piruetas na direção norte e  eu me sentia um beija flôr. De repente ele mudou de direção e fez questão de me mostrar a Pedra do Reino e a Serra do Catolé, me disse que por alí muita coisa aconteceu e me contaria depois. Ah! Que saudades de comer catolé. Em se falando de catolé, uma vez numa vernissage de eminente pintor pernambucano, no Rio um desmunhecado se referiu perjorativamente sobre os nordestinos, alegando que catolé era chiclete de matuto. A gargalhada foi geral. Mais antes que todos parassem de ri, quebrei o pau de suas ventas com um sôco. O s gritos histéricos e o corre corre tulmutuaram o recinto. Tudo calmo, o artista veio e me deu um abraço dizendo que eu fôra até compassivo. Fôsse ele, faria o indesejável mastigar o próprio saco como chicletes.
Continuamos a voar  e passamos por dentro de uma nuvem de papagaios que emigravam para o sul. Eu não sabia que eles podiam voar tão alto. Entramos em uma nuvem cor de rosa e fomos dar num gigantesco jardim.  Lá era a terra do Sem comêço e sem fim. Havia muitas flôres, arvores frutíferas, passaros e animais  e muitas crianças de todos os tipos e cores. Brincamos a valer e em dado momento me levaram para ver um imensurável lago. Nunca mais ví coisa igual. Suas águas eram cristalinas e se podia ver o fundo e os peixes  molemente nadando para lá e para cá. Me empurraram e caí na agua e muitos deles pularam para água também. Brincamos e nadamos por muito tempo e fiquei admirado pois todos falavam e eu os escutava e respondia. Um grande peixe passou por mim e me soprou uma quantidade enorme de bolhas. Outro, me fazia cócegas mordiscando a sola de meus pés. Isso me fzia dar enormes gargalhadas e numa delas engoli água. Pouco depois o menino fez um sinal pois tinhamos de sair da água. O curioso é que saímos e de repente todos estavam  enxutos. Estávamos cantando e pulando quando uma menina pretinha e muito bonita se aproximou e disse:
   - Ele tem de ir. A Vovó dele já está indo chamar ele no quarto.
   Dizendo isso ela me deu uma linda flôr e me avisou:
   - Leve, ela vai lhe dá boa sorte.
   Acordei com Vovó sacudindo a rede.
   - Ande menino. Vamos almoçar. 
   Como estava com fome, pulei da rede rápido e a flôr caiu no chão.
  - Calce as apargatas e venha logo. Mais onde você achou essa flôr de manacá ?
   - Lá no fundo do quintal Vovó...
  Ainda estava me calçando quando escutei os seus remungos caminhando pelo corredor:
   - Isso é coisa do Trancoso. Esse piá tem que ser rezado. Hmm. Hmm! Manacá... Ô xente ! Nessa época manacá nem broto dá... Ai,ai, ai..
   Com medo dos cascudos e safanões da Vovó e de Mamãe, nada contei para elas.
   Nesse momento começava minha "second life" ou uma virtual vida ou o Comêço dos comêços.
  Só décadas depois é que vim entender que o Menino Prateado era eu E eu o Menino Prateado.
**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão