quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Vozes do Natal

Havia de editar Na Molécula I, porém se avizinhava o Natal e a recordação de outros Natais vividos me veio à mente, principalmente o de 1979. Resolvi então, falar dele, ou melhor, explicar por que ele foi importante para mim.
Já havia algum tempo que morava em um pobre bairro da periferia entre gente humilde sem o devido amparo da sociedade e muito menos do governo, mais até hoje moro nele. Cheguei aqui com pincéis, tintas minha mochila de campanha e me instalei numa humilde meia-água. Minha longa barba e cabelos encaracolados até os ombros foram motivos para que os circunvizinhos me chamassem de Barbudo ou o Baby. Nunca me aborreci com os apelidos e é assim que me chamam até hoje, adultos e crianças. Os adultos do lugar em sua maioria são pescadores, trabalhadores na construção civil e outros serviços humildes. Apesar disso isto é, do lugar ser humilde, ano após anos gente de mais preparo e até de posição social mais elevada estão emigrando e se instalando de mala e cuia no bairro. Muitos são da classe média que após se aposentarem não tendo mais como pagar as altas taxas de condomínio nos bairros mais sofisticados do Rio de Janeiro fogem para as periferias. É o sinal dos tempos. O outro sinal será o êxodo para os Sertões.
Em 1979, às vésperas do Natal vendo a necessidade de tudo e de todos na revolta, resolvi escrever ou pintar alguma coisa referente ao Tema. Pintar não pintaria, pois prometera a mim mesmo jamais pintar coisas tristes, por que descobrira que um quadro é um ícone, um terrível amuleto que tanto pode ser empregado pára o bem ou para o mal das pessoas. Descartada essa possibilidade resolvi escrever sobre, mais o que? Passei uns dois dias contrariado sem saber o que fazer, quando no terceiro dia explodiu como uma represa destroçada lançando para todos os lados suas furiosas caudais de água, meu cérebro, minha mente. E o resultado foi o nascer de Vozes do Natal, quatro sonetos específicos sobre o assunto e aí estão.
O Natal do Sem Terra
Sou o sertanejo de bruto e tosco arado,
Que o Sol só encontra em férrea lida.
Com as mãos calosas, as roupas em andrajos,
Os pés estrepes, a boca ressequida.

Sou quem planta e colhe o grão que te alimenta,
Embora o que me toca é a soca da colheita.
Enquanto a tua fortuna a cada dia aumenta,
A Megera Fome o meu casebre espreita.

Enquanto bebericas estrangeiro vinho,
Cá me contento no aluá e na garapa.
Sei que tuas sobras são do bom lombinho,
Mais daqui só me escapole, da panela a rapa.

Mais nesta noite do Senhor Menino,
Quando forte canta o galo e tudo é Aleluia.
Ergo meus olhos e rogo a Deus em prece:
Que abarrote a tua burra e bem farte a cuia.

O Natal do Prisioneiro ou do Pré-Solto em mente.

Na masmorra apodreço e não sei onde nasce o Sol.
Fui valente e audaz mais agora estremeço;
O frio manto da solidão é o meu lençol...
E no catre imundo entre pulgas desfaleço.

Também fui criança como o Deus Menino,
Brinquei de gude, pulei carniça mais não tive escola.
Essa coisa que dizem ser boa, mais por desatino,
Alguns doam aos pobres apenas por esmola.

Sou a estátua nua da miséria humana,
Pois criminoso rico, aqui jamais perece...
Se apenas sou esterco ou flor de qualquer lama,
Não é a sociedade em si mesmo que apodrece?

Nesta noite me sinto um párea, porém sereno,
Reivindicando os mil direitos do existir.
Não foi no Calvário, entre ladrões que o Nazareno,
Para nos salvar veio a sucumbir?

Um almofadinha contou-me certa vez;
Que existe mais bordéis que escolas neste mundo.
Mais fuzis do que arados para o plantio e talvez
Neste tema sem temor me aprofundo

Pois há mais crianças do que pão para alimentar
E isto falo a vossa inteligência
Muito mais de maldosos dedos para armar e apontar
Existem dez para cada consciência

E ela, somente ela de cada um, que venha me julgar,
A si, seus próprios atos e dê a pena certa.
Pois no céu de qualquer um de par em par,
A porta do perdão jaz como sempre, aberta.

Natal de Prostituta é no Paraíso

Sou prostituta não nego, pois em fofa cama,
Satisfiz tua carne por alguns vinténs.
E agora nesta noite, de gloriosa fama,
Lembrança de mim não guardes, recordações de mim não tens.

Nada te peço mais devo te lembrar agora,
Minha alcunha é sacrilégio na tua nobre sala.
Mais ao badalar do sino, feliz com tua senhora,
Beija-a como a mim beijaste até fugir-lhe a fala.

Onde me encontras não quero que jamais encontres,
Tua filha, teu sangue e não seja tu o juiz.
Pois minha é a verdade, quiçá não me afrontes,
Sou mãe, fila e amiga, embora meretriz.

Saiba que uma de nós prosternada um dia,
Os pés do senhor em seu farto colo recolheu.
E ele nos profetizou esta verdade pia:

Antes de reis, bispos e doutores, assim se fará de forma absoluta:
Entrará no Paraíso entre cânticos e louvores,
A mais infeliz e pobre prostituta.

Natal na Favela não arranha o Céu.

Sou o operário que bem longe habita,
Sou eu que tijolo por tijolo ergue a construção
Sou um ser a ré, o parco salário me avilta,
Sou da máquina combustível, do progresso a mão.

Sou o homem sem porvir da sociedade ausente,
Barata de favela ou fétido alagado.
Só tenho de meu, o aconchegante e quente,
Amor de uma cabrocha que reparte o meu estrado.

De fábrica em fábrica, de construção em construção,
Minha vida é um girar, como o girar do monjolo.
Simples carta descartada no jogo da ilusão,
No resto do entulho, pedaço de tijolo.

Os vistosos arranha céus dominam a paisagem
Do alto da favela a cidade observo:
Pirilampando de luzes, festejando um deus imagem.
Que talvez tenha esquecido deste humilde servo...

Entre um gole de cachaça e um tira gosto de inveja,
Prescruto meu mundo e o outro, muito mais além.
Tenho os olhos umedecidos e minha alma peja,
Comovo-me com as estrelas, me embruteço com o desdém.

Da porta do barraco a velha mãe me grita:
-Filho! A mesa está pronta, já e hora, é a ceia.
O que foi que houve ou o que te irrita?
É o repicar dos sinos ou o canto da sereia?

Mais coração de mãe filho nenhum engana.
E correndo comovida me abraça tagarela;
-Filho meu!Filho meu! Exclama:
ARRANHA CÉU também é Favela!

Era véspera de Natal e fui visitar a Mãe em seu trabalho mais não fiquei para a ceia, pois o ultimo ônibus para meu bairro era a meia noite. Quase o perdi mais cheguei ao bairro umas duas horas da manhã e havia muita gente nas ruas comemorando. Com sede entrei na padaria próxima a minha casa e pedi um refrigerante. A padaria estava cheia de gente e muitos vieram me cumprimentar. Entre abraços e desejos de um feliz Natal uma senhora exótica veio me abraçar e disse:
-Não sou daqui, estou de passagem mais outro dia haveremos de nos encontrar.
- Como assim? Onde?Indaguei.
- No Paraíso meu amor. No Paraíso.
- E nós não?Indagaram todos.
E a exótica senhora se indo respondeu:
- Qual o bom Pai que não espera na porta o filho que vai chegar?
Depois que ela saiu um senhor curioso foi até uma das portas, olhou para um lado e para o outro e de olhos esbugalhados voltando exclamou:
- Gente! a dona sumiu!
Uma velhinha muito sirigaita que bebia com um grupo numa mesa olhou para mim e piscou os olhos como entendi o sinal fiz com o polegar um sinal de positivo e me fui.

****

**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão

**** Fim.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A Molecula I

Durante dois meses trabalhei duro no Projeto Idioma Brasileiro Livre mais não como antigamente quando eu entrava de noite adentro digitando numa velha máquina de escrever. Agora trabalho com mais comedimento, pois os setenta anos já me pesam nos ombros. Levarei mais um ou dois meses em revisões e modificações o importante porém, é que ele já está pronto.
Duas semanas já se haviam passado e o grupo não fez contatos e isso me deixou um pouco apreensivo. Estava realizando algumas pesquisas na internet quando a janela no canto do monitor abriu. Era Theu.
- Ora JB mais que cara é essa? Tudo está correndo nos conformes escute essa gravação;
- “” Sheyla você tem certeza que tudo está nos conformes?””
- “” Sim Dr. Roberto. Até pedi ao Celso e ao Dr. Renato para realizarem uma revisão a dois sobre os documentos e as coisas que teremos de levar. ””
- “” Então é melhor você se comunicar com o JB, o mais rápido possível. Já estamos no meio da semana e minha ansiedade é terrível.””
- A Sheyla vai ligar já, já para você, quer apostar?
Mal Theu acabou de falar e o celular tocou. Esperei alguns segundos e atendi.
- Alô. Com quem falo?
- Alô JB é a Sheyla. Como vai? Tudo bem?
- Tudo bem Sheyla é um prazer falar contigo, mais a que se deve a honra deste telefonema?
- Você está disponível para visitar a Moléculas I neste final de semana? Se você estiver ou quiser ir, Celso te apanha sexta-feira na parte da manhã. Como sabemos que sua Mãe não pode ficar sozinha providenciamos uma certa quantia com a qual poderá pagar uma pessoa de confiança para ficar com ela. Abra seu e-mail, pois tem documentos para você ler, siga as instruções e mande de volta. Está certo assim?
- Combinado. Mais voltaremos nos ver no sábado, pois não?
- Sim. Nós chegaremos à Molécula a noite, descansaremos e no sábado visitaremos todos os segmentos importantes e as pessoas que os administram. Está previsto voltarmos depois do encontro de confraternização lá pela tardinha. De acordo JB?
-Tudo bem.
- Então um beijão e até sexta feira.
- Viu “arataca” como as coisas estão acontecendo?
- É, mais ainda estou meio “aéreo” nas cenas.
- Surpreso com a existência da Molécula I JB?
- Acredite ou não, nada me surpreendeu e parece que sei tudo sobre a Molécula I
- Quando você voltar discutiremos sobre, agora trate de ir a casa daquela moça morena. Ela está precisando ganhar algum dinheiro e é a única em que você pode confiar.
Entendendo o que Theu queria me dizer rapidamente fui à casa de Elenice. Quando falei que ia precisar de seus préstimos no final de semana ela pulou de alegria.
- Caramba JB Estava pensando como seria o final de semana, sem dinheiro e com as netas sob minha responsabilidade. Você já imaginou o sufoco?
Expliquei a ela que no sábado voltaria possívelmente altas horas da noite mais sua presença já na sexta-feira bem cedo seria importante. Tudo combinado dali fui diretamente para o Mercado comprar os suprimentos necessários já que invariavelmente suas netas iriam também lá para casa.
Passei a quinta-feira arrumando coisas e só liguei a “máquina” na parte da tarde, pois não queria me envolver com cálculos ou digitações de responsabilidade. Já era quase noite quando o celular tocou, era Celso.
- Alô JB? Sou eu Celso. Está bom para você às 08.00 horas.
- Sim. Eu acordo muito cedo.
- Combinado então. As oito estarei aí, um abraço
- Outro. Até amanhã.
Elenice chegou cedinho com as netas e foi ótimo, pois a Mãe no anseio de conversar com as meninas veio logo para a varanda. Discuti com Elenice o que ela teria que fazer e fui por curiosidade ligar a “máquina”. Teu logo apareceu no canto da tela.
- JB, Como presumi que a Molécula I está situada ao norte ou ao nordeste, rastreamos a possível rota aérea que vocês percorrerão. Detectamos naves na linha do Equador mais não conseguimos identificar quem são. Não são os de nossa raça, disto estou certo. Seus meios de defesa são muito eficazes e estão sabendo de nossa varredura, por isso se auto desitregaram. Se forem vistos a olho nu, serão confundidos com estrelas. Mais acredito que não são perigosos. De qualquer maneira estaremos atentos. O Celso está chegando. Boa Viagem.
Celso estacionou o carro e como o portão estava aberto foi logo entrando, abraçou a Mãe e as meninas e indagou.
- Cheguei cedo JB?
- Sim mais estou pronto. Podemos ir.
Despedimo-nos sem não antes ouvir as recomendações da Mãe. Entramos no carro e partimos.
Celso é um rapaz loquaz e rapidamente começou a contar a sua vida. Sua mãe era pobre e só tinha ele de filho. Ela conseguiu trabalho em umas das granjas da Molécula e ele foi estudar as expensas da Molécula. Estava voltando da Alemanha onde completara seus estudos de Mecatrônica e agora estagiava assessorando o Dr. Roberto.
- Não entendo. Você se forma em Mecatrônica e esta assessorando um executivo. Por quê?
- Muito simples JB. Em termos hierárquicos eu serei o sétimo engenheiro Mecatrônico da Molécula. Esses quatro meses de estágio com Dr. Roberto me possibilitarão conhecer todos hierarquicamente superiores a mim aqui e no estrangeiro entendeu? Por exemplo; chegamos da África a semana passada e assim que tudo estiver definido com você viajaremos talvez para a Rússia.
- Uma coisa Celso: existem mais estudantes da Instituição no exterior?
- Sim JB. Não sei quantos são mais que são muitos em vários países disso eu tenho certeza.
Já estávamos descendo a Grota Funda no Recreio quando a voz do Dr. Roberto através do celular de Celso ecoou dentro do carro.
- Bom dia Celso, bom dia JB. Houve um imprevisto e temos que modificar o itinerário de vocês. A Dra. Teresa e Dra. Anecy não conseguiram voo, pois em São Paulo chove muito e os aeroportos estão interditados. Elas estão vindo de ônibus e devem chegar a Rodoviária a partir das dez horas. Vão para lá, elas já sabem que vocês irão buscá-las. Aguardo vocês no hotel.
- E agora JB? Você sabe qual é o melhor caminho? O Rio ainda é um pouco estranho para mim.
- Lá na frente pegamos a Linha Amarela e na altura do Instituto Osvaldo Cruz retornamos em direção à cidade.
Quando chegamos à Rodoviária começou a chover forte e como era de se esperar os ônibus que vinham de São Paulo também estavam atrasados. Fomos para a Praça de alimentação onde de lá e sentados, poderíamos ver os passageiros em desembarque. Os ônibus chegavam esporadicamente e isto deixava o Celso nervoso, somente lá pela uma da tarde finalmente as duas senhoras desembarcaram e rápidos fomos até elas. Ambas eram simpáticas e agradáveis. A Dra. Teresa era alta e de feições um tanto nórdicas e a Dra. Anecy não escondia a sua origem indígena que era evidenciada pela sua elegante indumentária de fino talhe. Rapidamente nos acomodamos no carro e partimos e depois das recíprocas apresentações entabulamos agradável conversa e só percebi a chegada ao destino quando o carro estacionou no subsolo de luxuoso hotel na Zona Sul.
No salão do hotel as senhoras se despediram e se foram conduzidas por um funcionário enquanto nós por outro elevador fomos para um dos últimos andares do hotel. Lá encontramos Sheyla que nos conduziu para uma sala com vistas para o mar.
- Tudo bem JB? Houve muitos imprevistos com este temporal no sul e alguns conselheiros se atrasaram. Mais o importante é que todos estão aqui e a reunião já teve início. Acredito que em duas horas ela termine. Só nos resta aguardar.
Dizendo isso fez menção para que sentássemos e começamos a conversar sobre vários assuntos triviais. Em dado momento pedi licença e fui a um reservado. Lá lavei o rosto e quando penteava o cabelo uma pequena janela tele mental se abriu e Theu apareceu.
- Preste atenção JB. Estamos monitorando tudo com o Sistema Integrado da Nave. O Analisador, o Tradutor e o Rastreador estão ativos. Durante a reunião que você participará receberá informações tele mentais através de uma janela igual a esta. A janela ficará acima de seu olho esquerdo à esquerda. Isso lhe permitirá ver e lê o que estiver escrito ou mostrado nela sem mexer com a cabeça e muito menos os olhos. Não tome a iniciativa de perguntas, espere ser indagado ou questionado. Você vai lidar com pessoas altamente preparadas e inteligentes. Seja prático e sucinto nas respostas, principalmente quando responder aos orientais. Seres anti máteros, imáteros e éteros materiais ligados a você estão de sobreaviso para assessorá-lo. Eles usarão o Sistema da Nave para ajudar. Boa Sorte.
Voltei para a sala e Sheyla e Celso estavam na enorme janela admirando uma enorme plataforma da Petrobras que estava sendo rebocada rumo ao Pré-Sal.
- Nós também estamos lá. Informou Sheyla.
- Eu não sabia e nunca cogitei que poderíamos participar deste empreendimento. Para mim o grosso da força de trabalho é estrangeira. Falou Celso.
- Por enquanto Celso, porém a possibilidade de estudar e ser um profissional bem pago na área do Petróleo e Gás está levando muitos jovens a Universidade. Muitos dos nossos já estão ou na Universidade ou em Empresas vinculadas ao Empreendimento. O que você acha disso tudo JB?
- Maravilhoso. Mais acho que nossos dirigentes já poderiam ir pensando em novas formas de energia. Afinal de contas o Petróleo um dia acabará.
- Pensando no futuro JB já montamos o nosso Grupo de Pesquisas.
Ia ponderar algo mais a voz do Dr. Roberto através do celular da Sheyla nos convidou a irmos a Salão de Reuniões.
- A reunião acabou JB, agora você será apresentado ao Conselho. Espero que essa não se prolongue, pois estou faminta.
O Salão era no andar acima e fomos utilizando a escada de serviço. No Salão fui logo conduzido para sentar ao lado do Dr. Roberto e Sheyla e Celso para dar algum apoio ficaram de pé por trás de mim. Alguns jovens, moços e moças cuidavam de detalhes e um deles estava sentado diante um computador em cujo monitor toda a sala era visualizada. A reunião estava sendo filmada. Eram 24 membros e sentada à cabeceira da enorme mesa Dra. Teresa presidia a reunião e a seu lado a Dra. Anecy a secretariava. Tomando a palavra a Dra. Teresa pediu que me levantasse e aí fui apresentado a todos em seguida ela apresentou um a um os Membros do Conselho que ao ter seu nome ventilado faziam um sinal de positivo em minha direção. Apresentação feita, Dra. Teresa explanou sobre o contrato que íamos assinar pediu que o Dr. Renato lesse para todos as clausulas. Como as clausulas eram apenas 24 rapidamente o Dr. Renato as leu e ao terminar todos bateram palmas aprovando seu teor e forma. 
A um sinal da Dra. Teresa, uma moça trouxe dois livros que eram as cópias do contrato colocando um na frente do Dr. Roberto e outro na minha frente e indicou onde deveria assinar. Com o conteúdo já era de meu conhecimento assinei e o mesmo o fez Dr. Roberto. Cópias da ata da Reunião, do Contrato e da reunião em si foram agilizadas no computador e gravadas em pen-drives. Enquanto isso era feito, o Dr. Roberto tomou a palavra explanou sobre a importância do contrato e aproveitou o ensejo para me convidar para uma visita a Molécula I. Em resposta levantei-me, agradeci e disse-me sentir lisonjeado com o convite. Ao sentar-me Dra. Teresa indagou-me se poderia responder a pergunta de um membro. Disse que sim e ela fez sinal para um senhor cujas vestes demonstravam ser um rabino que me indagou muito sério;
- Senhor JB a sua obra se “configura” como o “fundamento primordial” do conhecimento humano?
- Não meu caro senhor. A obra e que não é minha, é uma Inteligência Almática Telexiônica Independente e também não é a Figura Fundamental. Através dela, no entanto o Ser Humano pode pressentir ou perceber o que seja a Figura Fundamental em suas múltiplas reverberações. Se uma infinitesimal Partícula é uma partição do Universo, outro Universo pode ser uma partição desta infinitesimal Partícula. Assim como todas as coisas abstratas e concretas estão no Universo, o Universo está dentro de todas as coisas quer sejam abstratas ou concretas. Tanto a Partícula infinitesimal, o Ponto quanto o Universo possível no concreto e no abstrato são as representações matemáticas e geométricas da Figura Fundamental isto é: o Todo do Tudo ou o Tudo do Todo ou aprofundando a questão, Deus.
- Entendi, entendi. Obrigado.
A janela tele mental se abriu e nela estava escrito:
O Sistema captou a emissão tele mental do pensamento do rabino:
Em sendo assim, a Figura Fundamental da Cabala é uma mera especulação religiosa e esotérica e limitada às normas e regras cabalísticas. Ele propositadamente não deu as explicações geométricas e matemáticas.”
O rabino pediu ajuda com o olhar a um senhor do outro lado da mesa de aparência árabe. Ele apenas abriu as mãos como se quisesse dizer: “E agora”?” mais balbucionou baixinho na direção do rabino; “ Talvez ele seja um Abdullah Hamidé e não queira se expor”
Todos se entreolhavam na indecisão e Dra. Teresa percebendo o impasse indagou:
- Alguém deseja fazer uma pergunta?
Um senhor que aparentava ser um mongol levantou o dedo e me questionou.
- Senhor JB essa obra em questão, já que o Sr diz que não é sua, os seus “ecos” podem acionar ou interferir nos aspectos ou no próprio teor tanto do Yin como do Yang?
A tela tele mental se abriu e um aviso me foi dado:
Cuidado JB esta pergunta é ardilosa. Faça um exercício setenário rapidamente só então depois responda.”
Segui a orientação e só então respondi a pergunta:
- Não meu caro senhor. Veja bem que primordialmente o Yin propicia ou dá origem ao Yang e o Yang propicia ou da origem ao Yin. “Mais para que esta ação ou ações aconteçam necessário se faz que “algo” ou “ alguém” a ordene. Quer seja no plano do concreto através da fala ou no plano do abstrato através de formas pensamentos que são aspectos peculiares ao Verbo que é o Mantra ou Som que utilizará ou acionará o Yin e o Yang para determinado objetivo ou ação. O Verbo é regido pela nota musical mágica cujos parâmetros geométricos e matemáticos são iguais aos da Partícula, do Ponto, do Ser Humano e do Universo total. E ela jaz adormecida na Mente Almática de cada Ser Humano. Logo, a Obra é apenas um Repositório de conhecimentos que o ser Humano pode utilizar para entender e desfrutar dos aspectos mágicos da Criação e do ato de criar manipulando o Yin e o Yang.
O mongol sorrindo fez um sinal de positivo com o polegar mais antes que Da. Teresa desse por encerrada a Reunião a Sra. Indira uma indiana tomou a palavra;
- Sei que todos precisam partir e ainda nem almoçamos mais ainda cabe uma pergunta, pois não JB?
- Sim. Esteja à vontade senhora.
- Senhor JB, do Lótus a carcaça é Luz?
- Não minha senhora é lama. Luz é simplesmente a Essência.
Ela sorriu satisfeita e a Dra. Teresa deu por encerrada a sessão convidando para a refeição já tardia pois já eram quase seis horas.
Farta mesa nos esperava em outro salão. Todos estavam com apetite mais meia hora depois já estávamos nos despedindo. Alguns conselheiros iam conosco e outros partiriam imediatamente para seus países. Nosso grupo desceu para o subsolo onde um micro ônibus nos aguardava, embarcamos e rumamos para o aeroporto Tom Jobim. Lá fomos conduzidos a uma sala onde os documentos foram avaliados em seguida nos dirigimos para a pista onde um avião particular nos aguardava. Era um jato executivo. Como chovia fino e o vento era gelado corremos todos e entramos no avião. No meu pensamento ele seria como os aviões normais com as poltronas lado a lado e isto me surpreendeu; seu interior era como enorme e luxuoso apartamento: ampla sala e outros compartimentos. Imediatamente todos procuraram se acomodar de acordo com suas preferências.
- JB não faça cerimônia todos nós vamos descansar. Sente-se nesta poltrona e durma. Ainda teremos duas horas de voo até a Molécula.
Dizendo isso Sheyla me ajudou a transformar a poltrona em agradável cama e adormeci.
Já eram noite fechada, talvez umas oito horas da noite quando acordei. Não me levantei, pois percebi que somente o Dr. Renato estava sentado lendo um jornal. Mesmo recostado pela janela olhava a imensidão do céu; as estrelas pareciam lanternas juninas penduradas na sua escura abóboda. De repente abaixo da Constelação de Órion eles apareceram: rumavam devagarzinho em direção ao sul. Estava tão absorto no ato que não percebi Sheyla abaixada a meu lado.
- Só acredito por que também estou vendo! Exclamou.
Como ela falou em alta voz, todos correram para as janelas. Mais silenciosos apenas observavam a cena.
- Vejam eles estão fazendo um semicírculo. Gritou o rabino.
O Óvni, no entanto parou por alguns segundos e numa velocidade inconcebível partiu rumo Norte.
- Será que são amigos? Indagou o Dr. Renato, olhando para mim.
- Não sei. Só sei que eles não pretendem manter contato. No meu entender apenas nos vigiam. Não é a primeira vez que os vejo.
-Menos mal, menos mal, ponderou o rabino.
Apesar de todos concentrarem a conversa sobre o acontecido para satisfazer a minha curiosidade indaguei ao Dr. Roberto:
-Dr. Roberto este avião deve ter custado um dinheirão no exterior, é tão sofisticado. Quem o fabrica?
- Oh meu caro JB. Este avião é uma das jóias da Embraer, o Lineage 1000 e é o sonho de toda empresa ou executivo. Somente conseguimos este por deferência de um país asiático mais não podemos mencioná-lo por motivo das implicações políticas e religiosas. No meu entender estas conquistas e realizações tecnológicas deveriam ser demonstradas aos alunos na sala de aula para que eles contrariando alguns apátridas sentissem orgulho de nosso País.
Estava conversando sobre o tema com Dr. Roberto quando Sheyla nos interrompeu;
- Estamos chegando a Molécula. Em cinco minutos aterrissaremos.
O jato foi perdendo altura e um leve solavanco nos indicou que iniciara o pouso, taxiando na pista só parou defronte de um hangar onde um micro ônibus nos aguardava. Embarcamos e depois de alguns minutos já estávamos no hotel em cujo salão de estar onde muitas pessoas a sós ou em grupos conversavam. Na sua maioria eram estrangeiros. Após dar ordens na portaria, o Dr. Roberto aproximou-se e comentou;
-Este final de semana está muito movimentado, muitos grupos estrangeiros se anteciparam na chegada temendo não ter acomodações disponíveis. A semana que vem haverá um Evento sobre Meio Ambiente e Reciclagem mais não participarei dele, tenho que viajar. Dr. Renato, Celso e você JB sigam-me, ocuparemos o mesmo apartamento.
No apartamento, após um relaxante banho, antes de dormir fui até a enorme janela e fiquei apreciando a paisagem noturna da Molécula I. Podia-se dalí avistar várias edificações mais não tinha como identificá-las. Estava tão distraído que não percebi a chegada do Dr. Roberto.
- Muito bonito Dr. Roberto. Será que aqui é o começo da Terra onde mal nenhum existe?
- O sonho dourado dos Tupis Guaranis JB?
- Sim Doutor,
- Quem sabe JB. Quem sabe. Boa noite JB e tenha bons sonhos.
- Boa noite Doutor.
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**** O olho que dizem que tudo vê, olha o Mundo e não me enxerga pois no Ontem não era, no Hoje não é e no Amanhã nunca será. No entanto Eu olho o Mundo e o olho que dizem que tudo vê: Eu o vejo e o enxergo pois no Ontem Eu era, no Hoje Eu sou e no Amanhã sempre serei porquê na Eternidade das Eternidades, Sou Um de D*E*U*S*.

**** Eu vim, vi e venci e nem “eles” me viram nem tu me viste.
**** Um abraço a todos, até o próximo artigo e Inté.
**** Independência ou Sorte. O Aedo do Sertão

**** Fim.